Relato verídico de uma adolescente vítima de abuso sexual
Quando aconteceu, eu não estava à espera. Conheci-o numa festa, nas férias. Era bonito e senti uma grande atracção por ele. Parecia ser boa pessoa, mas, naquela mesma noite, o cordeiro despiu a pele e o lobo apareceu. Tínhamos ido para um miradouro isolado, à procura de uns bons momentos à frente do mar, escondidos na noite, à espera que a lua desse ainda mais brilho àquele encontro. Romântico, não é? Enganei-me.
Durante muito tempo, culpabilizei-me por ter acreditado que aquela noite seria a esperança de iniciar uma relação especial com alguém especial (coisa que há muito tempo eu desejava, farta de relações que não davam certo). Enganei-me porque, no início, conversámos, demos uns abraços, uns beijos, mas depois tudo 'descambou'.
Foi uma vertigem, disse-lhe que queria parar. Chamou-me de tudo, disse que era o que queria, que estava a pedi-las desde o primeiro momento em que eu olhara para ele na festa. Eu estava aterrada e hoje quero esquecer o que se passou a seguir, mas não consigo. Depois de me ter usado como um objecto, deitou-me para fora do carro. Andei a pé uns três ou quatro quilómetros, num estado indescritível. Consegui bater à porta de uma colega, de quem eu nem sequer era amiga, embora confiasse nela. Fomos ao hospital e tive a coragem de apresentar queixa. Ele havia de enfrentar, pelo menos, a vergonha de ser acusado do crime que cometera. Fiz exames. Tinha medo de ter ficado seropositiva, ou grávida.
Ando a ser acompanhada há meses. Ainda tenho pesadelos, não suporto ver camisas aos quadrados vermelhos (como a que ele tinha, naquela noite), nem carros da mesma marca; e, sobretudo, tenho medo de encontrá-lo. O apoio dessa minha colega, que hoje é a minha melhor amiga; e dos meus pais tem sido fundamental. A minha psicóloga da APAV ajuda-me a perceber que eu não tive culpa do que aconteceu, a recuperar a minha auto-estima e a acreditar que conseguirei vencer este problema. É ainda cedo para tudo isto, mas é preciso ir lutando. Também fiz queixa e agora estou à espera. Não sabia que era tão duro para uma vítima esperar. Mas espero com ajuda de quem sabe ajudar. Muito obrigado pelo vosso apoio."
Susana N., 19 anos
Adorei . . .
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Jéssica
Muito chocante este testemunho , mas serve de exemplo e de aviso para as pessoas , gostei , mais uma vez parabéns por este blog :)
ResponderEliminarLeonor Ferreira